O dinheiro e a moeda

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O aparecimento do dinheiro e da moeda na nossa sociedade. Breves noções sobre sistemas monetários. O padrão-ouro e a moeda fiduciária.

O desenvolvimento da espécie humana teve um grande avanço quando o homem conseguiu produzir alimentos numa escala maior e armazená-los. O facto de não necessitar de todo o seu tempo disponível para procurar alimento permitiu-lhe descobrir outras facetas da vida e outras formas de utilizar e desenvolver o seu cérebro. A quantidade extra de alimentos poderia ser trocada por outros alimentos, ou outros bens, que o seu vizinho produzira. À medida que o número de bens diferentes ia aumentando a complexidade das trocas tornava-se evidente. Começaram por utilizar bens que funcionavam como padrão. Por exemplo, uma sociedade primitiva piscatória poderá ter utilizado o peixe como moeda padrão para facilitar o valor das trocas. «Essa vaca vale 16 peixes, por isso dou-te em troca 8 galinhas, que valem 2 peixes cada uma». O peixe até poderia ser aceitável como referência mas sabemos hoje que uma moeda, para ser útil, deverá cumprir três funções básicas:

Função meio de troca

Uma moeda deverá ser fácil de transportar e trocar entre as agentes económicos.

Função reserva de valor

Uma moeda deverá poder ser guardada (poupada) conservando significativamente o seu valor.

Função unidade de conta (padrão de valor)

Uma moeda deverá ser facilmente convertida noutras unidades e ser facilmente contabilizável.

O peixe cumpria, ainda que bastante mal, dois dos requisitos. Não seria prático ir ao mercado com uma cesta cheia de peixes para trocar por carne ou outros bens, embora não fosse impossível. Seria também possível converter o valor de outros bens em unidades de peixe, como o exemplo acima o demonstra. Mas a função reserva de valor seria impraticável. Poupar dinheiro, mesmo que apenas durante um curto período, seria impossível pois o peixe apodrecia.

Utilizaram-se diversos bens como moeda; o gado, o sal e até pedras gigantescas. Quando o homem descobriu o metal, verificou que havia muitas vantagens em utilizá-lo como meio de troca pois era raro, facilmente divisível, transportável e tinha até uma certa beleza que causava fascínio. O metal foi utilizado primeiro no seu estado natural e depois sob a forma de objetos, como anéis ou braceletes. O metal tinha ainda um problema, não era facilmente contabilizável. Seria necessário pesar o metal e aferir o seu tipo e grau de pureza. De forma a simplificar a valorização da peça de metal  começaram a produzir em tamanho e peso certos e a cunhar o seu valor e responsável pela emissão. Tinha nascido a moeda. Esta invenção humana trouxe confiança impulsionando de forma determinante as trocas comerciais.

Já na idade média, os cidadãos abastados tinham o hábito de guardar as suas joias em ouro e prata nos ourives locais. Como comprovativo, o ourives entregava um recibo que atestava e garantia esse depósito. Com o passar dos anos, esses recibos iam servido de moeda de troca entre os seus titulares para transações de valores mais avultados. Nascia assim o papel-moeda.

O papel-moeda passou a ser controlado pelo Rei, ou pelo Estado, à semelhança do que já acontecia com a moeda.

O padrão-ouro e a moeda fiduciária

No início, a própria moeda era de ouro e tinha por si só o valor que representava. Com a introdução do papel-moeda os governos passaram a emitir dinheiro que representava o mesmo valor em ouro. O papel-moeda, ou as notas bancárias, poderiam ser convertidas em ouro a pedido do titular. Chamava-se a esse sistema financeiro o padrão-ouro.

Durante a primeira guerra mundial a maior parte dos países abandonou o padrão-ouro principalmente devido aos custos provocados pela guerra e à expansão das políticas fiscais e monetárias. Como não seria possível subir os impostos ilimitadamente suspenderam a conversibilidade em ouro para poderem emitir moeda e financiar a guerra. O efeito inflacionário fez-se sentir pelo que no pós-guerra os países tentaram voltar ao padrão-ouro novamente. A Alemanha não o fez pois tinha perdido todo o seu ouro em reparações de guerra não tendo outra solução senão imprimir Marcos. A emissão de Marcos de forma descontrolada levou à histórica hiperinflação alemã de 1920. Os outros países europeus voltaram ao padrão-ouro mas quando perceberam que seriam necessários grandes investimentos para reconstruir as infraestruturas do país foram abandonando esses sistemas e reinventando outros como o padrão barra-ouro e após a segunda guerra mundial o padrão dólar-ouro.

Atualmente o sistema monetário em vigor em quase todos os países do mundo é o da moeda fiduciária. A moeda não é convertível em ouro e apenas vale o seu valor facial porque o sistema confia que seja esse o seu valor. Existem vantagens e desvantagens nos dois sistemas e há exemplos históricos bons e maus com ambos os sistemas.

Notas de 50€ e 100€ saídas da casa da moeda para os bancos.

Uma das críticas que é possível fazer à moeda Euro é que esta, mesmo sendo uma moeda fiduciária, não permite aos países emissores beneficiar de uma política monetária ativa. Um determinado país, como Portugal, não pode emitir moeda, ou emitir dívida comprada pelo banco central, de forma a estimular a economia em períodos de inflação muito baixa ou deflação.

A seguir leia o artigo: O que é a análise SWOT?