Compreender o Produto Interno Bruto - O PIB
Publicado em 24/10/2013 por Miguel Vieira Pinto 4 654 visualizaçõesTodos os dias ouvimos diversos acrónimos, ditos com a facilidade de quem julga que todos sabem o que significa. Muitas vezes, nem os próprios que utilizam essas expressões têm realmente noção do que estão a falar. Este artigo tenta desmistificar o acrónimo PIB, ou seja, Produto Interno Bruto.
O Produto Interno Bruto (PIB) é sobretudo um indicador que mede o volume da economia de determinado país. É útil para medir o peso da economia de um país no mundo, mas também é uma das medidas utilizadas para aferir o nível de vida de determinada população de um país. Neste último caso utiliza-se o PIB per capita, que é simplesmente o PIB a dividir pelo número de habitantes desse país.
O PIB agrega todos os valores de bens e serviços produzidos num país num determinado período (mês, trimestre, ano). Para o cálculo do PIB deveremos descontar os bens de consumo intermédio, pois assim estaríamos a conta-los duplamente.
Teoricamente existem três formas de chegar ao valor do PIB, e todas deverão apurar o mesmo valor. Na ótica da despesa a fórmula de cálculo é a seguinte:
PIB = C + G + I + X – M
C – Consumo privado
G – Consumo público
I – Investimento (Formação Bruta de Capital Fixo + Variação de Existências)
X – Exportações
M – Importações
A ótica da despesa calcula o PIB somando as despesas efetuadas por todos os agentes económicos em bens e serviços de utilização final, isto é, não se contabiliza bens e serviços que são utilizados para produzir outros bens e serviços (consumos intermédios). É somado o consumo privado, C, que são todos os gastos efetuados pelas famílias e empresas, com o consumo público, G, representando os gastos do estado em bens e serviços de consumo, o investimento, I, em máquinas, edifícios ou matérias-primas. No entanto, como no consumo anteriormente apurado estão incluídos bens importados e não estão incluídos bens que foram exportados (consumidos por entidades externas ao nosso país) deveremos efetuar a respetiva correção. Somar as exportações, X, e subtrair as importações, M.
Ao olhar para esta fórmula, muitos políticos com um pensamento demasiado simplista da realidade, constatam que o consumo é diretamente proporcional ao PIB, o que é um facto. E concluem imediatamente que, obviamente, se aumentarmos o consumo, o PIB também aumenta, o que já não é exato. O PIB só aumenta com o consumo se o país conseguisse produzir mais na mesma proporção. Se produzisse o mesmo, ao aumento de consumo C corresponderia um aumento das importações M, e o efeito seria, no mínimo, anulado.
PIB nominal e PIB real
É comum associar as expressões nominal e real ao acrónimo PIB. O PIB nominal é o valor do produto interno bruto calculado a preços correntes, ou seja, preços rigorosos do ano em que foram produzidos e comercializados. O PIB real é calculado com referência a um ano base onde o efeito da inflação é removido.
Produto Nacional Bruto ou PNB
Existe um outro indicador semelhante ao PIB que é o PNB. O Produto Nacional Bruto corresponde ao PIB corrigido dos rendimentos líquidos do exterior, ou seja, a produção de uma empresa estrangeira em Portugal não conta para o PNB. Já a produção de uma empresa portuguesa no estrangeiro será contabilizada.
Evolução do PIB Português desde 1990
ANO | PIB Nominal (Milhões Euros) | Variação Anual (%) |
1989 | 46 305,0 | |
1990 | 55 395,4 | 19,6% |
1991 | 63 753,9 | 15,1% |
1992 | 71 675,3 | 12,4% |
1993 | 74 959,3 | 4,6% |
1994 | 81 272,5 | 8,4% |
1995 | 87 840,9 | 8,1% |
1996 | 93 216,5 | 6,1% |
1997 | 101 145,9 | 8,5% |
1998 | 110 376,5 | 9,1% |
1999 | 118 661,4 | 7,5% |
2000 | 127 316,9 | 7,3% |
2001 | 134 471,1 | 5,6% |
2002 | 140 566,8 | 4,5% |
2003 | 143 471,7 | 2,1% |
2004 | 149 312,5 | 4,1% |
2005 | 154 268,7 | 3,3% |
2006 | 160 855,4 | 4,3% |
2007 | 169 319,2 | 5,3% |
2008 | 171 983,1 | 1,6% |
2009 | 168 529,2 | -2,0% |
2010 | 172 859,5 | 2,6% |
2011 | 171 064,8 | -1,0% |
2012 | 165 409,2 | -3,3% |
O que o PIB não conta
O PIB indica o volume, em moeda, da economia, mas não dá qualquer indicação sobre a qualidade dessa economia. Portugal é um bom exemplo de como o valor do PIB pode ser enganador. O forte crescimento da economia portuguesa na década de 90 foi baseado sobretudo no investimento em obras públicas e construção de habitação. Esta opção macroeconómica teve dois defeitos fundamentais. O primeiro foi o facto de terem sido desviados recursos que seriam fundamentais para a melhoria da competitividade da economia. Teria sido importante conseguir produzir mais bens, e de maior valor acrescentado, sendo para isso necessário investimento em equipamentos, investigação e desenvolvimento e formação mais aplicada à indústria. O segundo é um problema que se está a manifestar agora de uma forma brutal. Construíram-se as obras públicas necessárias e, como era fundamental alimentar o setor da construção pois a economia assentara nele, passou-se a construir também o que não era necessário. Com o ajustamento da economia, todo um setor entra em colapso, gerando um elevado número de desempregados.
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