Vantagem Positiva
Publicado em 28/09/2012 por Miguel Vieira Pinto 2 566 visualizaçõesO mundo competitivo de hoje obriga-nos a ser melhores, mais eficientes, mais produtivos, mais competentes. Mas, mesmo que alcancemos os nossos objectivos será que conseguimos ser felizes?
Este artigo tem uma versão atualizada no Portal Ciberforma: chama-se agora Vantagem do Cérebro Feliz, que é também o nome do livro de Shawn Achor.
Quando atingimos um objectivo importante nas nossas vidas, daqueles que nos deixam extremamente felizes, duas semanas mais tarde a sensação de felicidade esvai-se. A motivação e o incremento de energia que essa felicidade nos trás esvai-se também.
Presume-se que o nosso nível de felicidade seja ditado pelo mundo exterior. Presume-se que se as variáveis externas ao individuo forem mais favoráveis (ter um salário mais alto, fazer férias num paraíso exótico, poder comprar o automóvel de sonho, ou apenas ser muito rico), então o individuo será mais feliz. Na realidade, diversos estudos apontam que os factores externos ao individuo são apenas responsáveis por 10% do índice de felicidade de longo prazo desse individuo. Os restantes 90% são ditados pela forma como o nosso cérebro processa o mundo exterior. Se conseguirmos alterar os parâmetros subjacentes à forma como o nosso cérebro processa o mundo exterior então poderemos, não só criar o bem-estar do individuo e fazê-lo mais feliz, mas melhorar a sua performance profissional e pessoal de forma dramática.
Esta é a proposta de Shawn Achor, um psicólogo e académico americano que desenvolveu uma teoria interessante sobre a felicidade humana e desempenho profissional. Segundo Achor o senso comum faz com que coloquemos o problema ao contrário. Somos formatados desde crianças a atingir objectivos para termos uma recompensa. A fórmula de sucesso seguida pela nossa sociedade é “se eu trabalhar mais e melhor então serei bem-sucedido, e se for bem-sucedido serei mais feliz”.
MAIS TRABALHO -> MAIS SUCESSO -> MAIS FELICIDADE
Esta fórmula fundamenta o nosso estilo de paternidade, a educação nas nossas escolas e, de uma maneira geral, a forma como nos motivamos no dia-a-dia. O problema é que esta fórmula está errada, e é cientificamente incorrecta. Cada vez que o nosso cérebro atinge o sucesso (se é que o consegue atingir) apenas estamos a alterar a nossa definição de sucesso. Tivemos boa nota no exame, agora temos que obter notas melhores. Atingimos o objectivo de vendas do trimestre, então, no trimestre seguinte, esse objectivo será ainda maior. Se a felicidade está no outro lado do sucesso, o nosso cérebro nunca chega realmente lá, e a felicidade nunca é verdadeiramente alcançada. O que fizemos, globalmente como sociedade, foi empurrar a felicidade para além do horizonte cognitivo. E isto porque pensamos que temos de ser bem-sucedidos primeiro, e depois, sim, seremos mais felizes.
A teoria de Achor baseia-se em duas premissas fundamentais:
- Não podemos adiar a felicidade para depois do sucesso;
- Um individuo feliz é mais produtivo, mais competente, atingindo melhor e mais depressa os seus objectivos.
Estudos comprovam que um cérebro positivo tem um desempenho significativamente melhor (média de 31%) do que um cérebro negativo, neutro ou em stress. A inteligência, a criatividade e o nível de energia aumentam num cérebro positivo. Diversos estudos apontam para resultados reveladores: Um vendedor positivo vende mais 37%, um médico positivo é 19% mais preciso no diagnóstico, ... Se encontrarmos uma forma de nos tornarmos positivos seremos concerteza mais bem-sucedidos. A dopamina que inunda o nosso sistema quando somos positivos tem dois efeitos importantes. O primeiro, e mais visível, é que nos torna mais felizes. O segundo é accionar todos os centros de aprendizagem do nosso cérebro permitindo-nos adaptar ao mundo de forma diferente.
Shawn Achor compilou diversos métodos que juntos permitirão treinar o cérebro a tornar-se mais positivo de uma forma duradoura:
Criar alterações positivas duradouras
- Três reconhecimentos de felicidade (Emmons & McCullough, 2003)
Anotar diariamente três motivos pelos quais se sintam gratos durante 21 dias. Após esse período, o cérebro retém um padrão de procurar no mundo as coisas positivas primeiro.
- Diário de experiências positivas (Slatcher & Pennebaker, 2006)
Anotar uma experiência positiva que tenhamos tido nas últimas 24 horas. Irá permitir ao nosso cérebro reviver essa experiência, consolidando-a.
- Exercícios (Babywak et Al., 2000)
Os exercícios ensinam o cérebro a perceber a importância do comportamento.
- Meditação (Dweck, 2007)
Ajuda o cérebro a superar o deficit de atenção ou hiperactividade que criamos ao tentar realizar diversas tarefas em simultâneo.
- Actos de bondade aleatórios (Lyubomirsky, 2005)
Todos os dias elogiar ou agradecer a alguém do seu círculo social, mesmo que seja por e-mail ou mensagem escrita.
Ao desenvolver estas actividades estamos a treinar o nosso cérebro, assim como treinamos o nosso corpo, a inverter a fórmula de felicidade/sucesso, chegando mais depressa ao sucesso, mas não tendo que esperar pelo sucesso para ser feliz.
(link para a conferência TED de Shawn Achor)