Compreender o Produto Interno Bruto - O PIB

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Todos os dias ouvimos diversos acrónimos, ditos com a facilidade de quem julga que todos sabem o que significa. Muitas vezes, nem os próprios que utilizam essas expressões têm realmente noção do que estão a falar. Este artigo tenta desmistificar o acrónimo PIB, ou seja, Produto Interno Bruto.

O Produto Interno Bruto (PIB) é sobretudo um indicador que mede o volume da economia de determinado país. É útil para medir o peso da economia de um país no mundo, mas também é uma das medidas utilizadas para aferir o nível de vida de determinada população de um país. Neste último caso utiliza-se o PIB per capita, que é simplesmente o PIB a dividir pelo número de habitantes desse país.

O PIB agrega todos os valores de bens e serviços produzidos num país num determinado período (mês, trimestre, ano). Para o cálculo do PIB deveremos descontar os bens de consumo intermédio, pois assim estaríamos a conta-los duplamente.

Teoricamente existem três formas de chegar ao valor do PIB, e todas deverão apurar o mesmo valor. Na ótica da despesa a fórmula de cálculo é a seguinte:

PIB = C + G + I + X – M

C – Consumo privado
G – Consumo público
I – Investimento (Formação Bruta de Capital Fixo + Variação de Existências)
X – Exportações
M – Importações

A ótica da despesa calcula o PIB somando as despesas efetuadas por todos os agentes económicos em bens e serviços de utilização final, isto é, não se contabiliza bens e serviços que são utilizados para produzir outros bens e serviços (consumos intermédios). É somado o consumo privado, C, que são todos os gastos efetuados pelas famílias e empresas, com o consumo público, G, representando os gastos do estado em bens e serviços de consumo, o investimento, I, em máquinas, edifícios ou matérias-primas. No entanto, como no consumo anteriormente apurado estão incluídos bens importados e não estão incluídos bens que foram exportados (consumidos por entidades externas ao nosso país) deveremos efetuar a respetiva correção. Somar as exportações, X, e subtrair as importações, M.

Ao olhar para esta fórmula, muitos políticos com um pensamento demasiado simplista da realidade, constatam que o consumo é diretamente proporcional ao PIB, o que é um facto. E concluem imediatamente que, obviamente, se aumentarmos o consumo, o PIB também aumenta, o que já não é exato. O PIB só aumenta com o consumo se o país conseguisse produzir mais na mesma proporção. Se produzisse o mesmo, ao aumento de consumo C corresponderia um aumento das importações M, e o efeito seria, no mínimo, anulado.

PIB nominal e PIB real

É comum associar as expressões nominal e real ao acrónimo PIB. O PIB nominal é o valor do produto interno bruto calculado a preços correntes, ou seja, preços rigorosos do ano em que foram produzidos e comercializados. O PIB real é calculado com referência a um ano base onde o efeito da inflação é removido.

Produto Nacional Bruto ou PNB

Existe um outro indicador semelhante ao PIB que é o PNB. O Produto Nacional Bruto corresponde ao PIB corrigido dos rendimentos líquidos do exterior, ou seja, a produção de uma empresa estrangeira em Portugal não conta para o PNB. Já a produção de uma empresa portuguesa no estrangeiro será contabilizada.

Evolução do PIB Português desde 1990

ANOPIB Nominal
(Milhões Euros)
Variação Anual (%)
198946 305,0 
199055 395,419,6%
199163 753,915,1%
199271 675,312,4%
199374 959,34,6%
199481 272,58,4%
199587 840,98,1%
199693 216,56,1%
1997101 145,98,5%
1998110 376,59,1%
1999118 661,47,5%
2000127 316,97,3%
2001134 471,15,6%
2002140 566,84,5%
2003143 471,72,1%
2004149 312,54,1%
2005154 268,73,3%
2006160 855,44,3%
2007169 319,25,3%
2008171 983,11,6%
2009168 529,2-2,0%
2010172 859,52,6%
2011171 064,8-1,0%
2012165 409,2-3,3%
Fonte: pordata.pt

O que o PIB não conta

O PIB indica o volume, em moeda, da economia, mas não dá qualquer indicação sobre a qualidade dessa economia. Portugal é um bom exemplo de como o valor do PIB pode ser enganador. O forte crescimento da economia portuguesa na década de 90 foi baseado sobretudo no investimento em obras públicas e construção de habitação. Esta opção macroeconómica teve dois defeitos fundamentais. O primeiro foi o facto de terem sido desviados recursos que seriam fundamentais para a melhoria da competitividade da economia. Teria sido importante conseguir produzir mais bens, e de maior valor acrescentado, sendo para isso necessário investimento em equipamentos, investigação e desenvolvimento e formação mais aplicada à indústria. O segundo é um problema que se está a manifestar agora de uma forma brutal. Construíram-se as obras públicas necessárias e, como era fundamental alimentar o setor da construção pois a economia assentara nele, passou-se a construir também o que não era necessário. Com o ajustamento da economia, todo um setor entra em colapso, gerando um elevado número de desempregados.

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