Votar ou não votar

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O fenómeno da abstenção continua a aumentar e é ainda mais percetível em eleições para o parlamento europeu. Este artigo visa refletir sobre esta realidade e perceber a diferença que pode representar o voto em branco da mera falta às urnas.

Colocar-se à margem de qualquer decisão é sensato? Teremos legitimidade para criticar quem não cumpre quando, quem não vota, também não cumpre? Dirão alguns que esta é a forma que está ao seu alcance para protestar contra estes políticos e estas políticas.

Mas como distinguimos alguém que quer protestar daquele que se está a marimbar. Como se diferencia alguém que quer escolher mas não se revê em quem mente, do outro que quer estar sempre ausente.

Na abstenção junta-se de tudo:

  • Os dececionados com os partidos e a política;
  • Os minimalistas que pensam que o seu voto, por ser um só, não faz qualquer diferença;
  • Os preguiçosos que esperam sempre que alguém tome as decisões por eles;
  • Os arrogantes que se acham intelectualmente superiores a essa coisa da democracia;
  • Os bota-abaixo que nunca estão contentes com nada e hão de sempre dizer mal de tudo e de todos;
  • Os eternos otimistas que como está sempre tudo bem, seja eleito quem for, o mundo não vai acabar, e desde que haja saúde…;

Os brancos e nulos contam, de facto. Nestas eleições foram 245.324 os votos de verdadeiro protesto, representando 7,47% do total de eleitores que se deram ao trabalho de ir votar. Os abstencionistas que aspiram a melhorar a democracia, se é que existem, perderam uma excelente oportunidade para dar uma verdadeira lição aos partidos políticos. Perderam uma oportunidade única para mostrarem que algo não está bem com a fórmula encontrada de representação dos cidadãos nas decisões políticas do país. Os partidos são estruturas muito fechadas e rígidas onde as ideias não fluem. Onde a única preocupação é encontrar uma personalidade que esteja em condições de ganhar eleições, nada mais importa. Quando a encontram, dirigentes e militantes fundem-se na tarefa de secar tudo à volta, de forma a não perturbar ou prejudicar a ascensão do líder ao poder absoluto. Quando esse poder é atingido, a tarefa da militância continua. É fundamental estancar o fluxo de ideias diferentes que possam circular dentro do partido político pois podem prejudicar a liderança e o poder entretanto conquistado. E infelizmente os partidos resumem-se a isto.

Votar branco ou nulo seria o verdadeiro sinal para que outros cidadãos possam sentir o apelo para se organizarem e formarem partidos que defendam ideias que sejam partilhadas por muitos outros cidadãos. Seria também um ultimato para os atuais partidos obrigando-os a reverem os seus estatutos e a abrirem-se verdadeiramente à sociedade, permitindo que as ideias fluam e que novos e bons líderes possam emergir naturalmente.

Taxas de abstenção elevadas podem levar à degradação da democracia e levar a acreditar que a melhor solução para escolher os nossos representantes será outra que não o sufrágio universal, onde todos os cidadãos têm a mesma importância.

Até prova em contrário, a democracia é a melhor forma de organização política, e precisa de ser melhorada, não ignorada.

Os partidos com ideologias radicais, pouco humanistas e muito pouco democratas conquistaram terreno por toda a Europa. Termino esta relexão com uma citação de Edmund Burke que diz «The only thing necessary for the triumph of evil is for good men to do nothing.» A melhor tradução que consigo fazer é «A condição necessária para que o mal triunfe é que os homens bons nada façam!»

Para ler a seguir: Qual a diferença entre projeto e processo?