José Sócrates detido para interrogatório

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O antigo primeiro-ministro português, José Sócrates, responsável pelo pedido de resgate e pela intervenção da Troika em Portugal desde 2011, foi preso hoje, dia 22 de novembro, à chegada ao aeroporto da portela proveniente de Paris.

O ex-primeiro-ministro é suspeito de crimes de corrupção, fraude fiscal agravada, branqueamento de capitais e falsificação de documentos, segundo o jornal Sol.

As diversas diligências, no âmbito de um inquérito aberto pelo DCIAP (Departamento Central de Investigação e Ação Penal), incluíram a detenção de outros três arguidos e buscas a residências e à sede de uma empresa do setor de construção. O processo está a cargo do juiz de instrução Carlos Alexandre.

Um testa de ferro

Ainda segundo o jornal Sol, nos anos em que Sócrates foi governante conseguiu angariar um a fortuna que ronda os 20 milhões de euros, estacionados na Suíça em nome de alguém da sua inteira confiança. Está indiciado no processo por ter criado, enquanto governante, legislação que lhe permitiu branquear essas verbas obtidas de forma ilegal.

O património veio de uma herança

Garantiu numa entrevista à RTP que apenas tinha uma conta bancária, aberta há 25 anos mas ao terminar o seu mandato investiu 95 mil euros num Mercedes e fez-se estudante de Filosofia Política em Paris.

Preso à oculta realidade financeira que criara, mas já com o dinheiro numa conta em Portugal, em nome de um amigo de longa data, veio a justificar a vida de luxo que levava em Paris – onde alugou um apartamento, na zona mais cara – através do recurso a um empréstimo da CGD (de valor quase igual ao do carro topo de gama que comprara em leasing) e com uma herança deixada à mãe, Maria Adelaide Pinto de Sousa.

Foi com este argumento da herança, aliás, que já justificara a aquisição do seu luxuoso apartamento no edifício Heron Castilho, na rua Braamcamp, em Lisboa, em 1995, dois meses antes de a mãe também se ter instalado num andar do mesmo edifício (o Heron Castilho) por um preço semelhante: 224 mil de euros. Mas o valor do património que tocou a Maria Adelaide com a morte do pai – um homem nascido em berço pobre, mas que durante a Segunda Guerra Mundial se fez ao volfrâmio, alcançando um pé-de-meia que lhe deu para investir no imobiliário – está longe de cobrir os gastos de Sócrates.

Os investigadores suspeitam que a mãe de Sócrates tem sido um dos meios que este tem usado para branquear o dinheiro das «luvas» que foi recebendo como governante.

Do património que recebeu de herança, Maria Adelaide vendeu alguns apartamentos em Queluz que, à risca, apenas lhe dariam para pagar a casa nova no Heron Castilho. Em 2011, sobrava-lhe um espólio de pouca monta em Setúbal, dois apartamentos no Cacém e um rés-do-chão num prédio modesto em Cascais, de onde se mudara quando optou pela vizinhança com o filho em Lisboa.

Com a nova vida de Sócrates, Maria Adelaide, que nada sabe sobre o tesouro escondido do filho, teve de se desfazer de tudo. Ainda em 2011, após a eleição que colocou no seu lugar Passos Coelho, Sócrates pediu à mãe que vendesse ao tal amigo de longa data os dois apartamentos no Cacém – e esta, sem saber que o real comprador é o filho, fez negócio com o empresário da Covilhã por 175 mil euros, verba que este foi colocando em tranches nas contas do ex-primeiro-ministro.

O tal amigo de longa data, com o dinheiro trouxera da Suíça, foi levantando da conta em Portugal os valores de que Sócrates necessitava e de forma a escapar ao escrutínio fiscal e judicial, dando além disso uma aparência normal à sua conta oficial. Com esse capital, o antigo líder do PS não só justificou a herança como amortizou metade do empréstimo junto da CGD e pagou parte do Mercedes.

Mas tudo isto é só uma parte de um novelo que só agora se está a desenrolar.