José Maria do Espírito Santo e Silva – O primeiro dos Espírito Santo

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Foi com o comércio de lotarias e câmbio de moeda estrangeira que José Maria do Espírito Santo e Silva começou a sua atividade em 1869 com apenas 19 anos de idade.

A fundação do Grupo Espírito Santo

O comércio de lotarias, câmbios e títulos que José Maria do Espírito Santo e Silva — patriarca da única dinastia de banqueiros portugueses — exerceu entre 1869 e 1884 e o desenvolvimento do comércio bancário praticado desde essa data até ao ano do seu falecimento, em 1915, a nível individual ou associado a outros comerciantes, estiveram na origem do que viria a ser o Grupo e o Banco Espírito Santo.

Datam de 1869 as primeiras referências escriturais ao comércio que José Maria do Espírito Santo exercia, por conta própria, de compra e venda de lotarias, a par da transação de títulos de crédito nacionais e estrangeiros, na sua modesta «caza de câmbio» situada na Calçada do Combro.

Depois de 1880 — após transferir o estabelecimento para a Rua Nova d'El-Rei, em plena Baixa lisboeta — deixa de se interessar pela redistribuição da lotaria espanhola em Portugal e no Brasil para se dedicar em exclusivo à negociação de fundos públicos e operações bancárias na praça lisboeta.

A estes negócios associou, a partir de 1884, alguns amigos e empregados, sem deixar de, num curto período de tempo, atuar no sector imobiliário, quase sempre a nível individual, sector onde reproduziu consideravelmente o seu capital.

De volta ao comércio bancário, em finais de 1897 formou novas sociedades, denotando desde então particulares cuidados com a sua transmissão aos herdeiros varões.

A partir de 1903 diversificou os seus interesses, participando em sociedades viradas para o comércio colonial que, sediadas em Angola e Moçambique, exploravam matérias-primas, como o sisal e o açúcar, entre outras.

Foram já os seus herdeiros que, após a sua morte em 1915, perpetuaram os negócios do progenitor, transformando a sua última casa bancária — J. M. Espírito Santo Silva & C.a — primeiro na Casa Bancária Espírito Santo Silva & C.a, em 1916, e depois em Banco Espírito Santo no ano de 1920.

Quando faleceu, o seu património estava avaliado em cerca de 1200 contos.

Filho de pais incógnitos

José Maria do Espírito Santo e Silva nasceu em Lisboa aos 13 dias do mês de maio de 1850, na Travessa dos Fiéis de Deus, 72, típica ruela do velho Bairro Alto.

No seu assento de batismo, consta a informação «filho de pais incógnitos». Contudo, com base em alguma documentação esparsa, apoiados em testemunhos orais e em investigação histórica, levanta-se a hipótese de Simão da Silva Ferraz de Lima e Castro, conde de Rendufe (intendente-geral da Polícia em 1824) e Maria Angelina Saraiva serem os seus progenitores. Razões sociais do primeiro poderão ter estado na base do não reconhecimento da paternidade.

Batizado apenas como «José», só se encontra o nome completo no assento de casamento: José Maria do Espírito Santo e Silva, de profissão cambista.

Quanto à formação do nome, presume-se que Maria, deve-se ao facto de ter sido Nossa Senhora a madrinha de batismo; Espírito Santo — a terceira pessoa da Santíssima Trindade — segundo a tradição familiar, terá sido acrescentado no crisma a pedido do próprio. E o apelido «Silva» donde vem? É uma incógnita.

Para além do facto de que o usava aquando do primeiro casamento, celebrado na Igreja da Encarnação, em Lisboa, em 20 de Dezembro de 1869, com Maria da Conceição (exposta na Misericórdia de Lisboa em 1851), não temos sobre a sua origem mais do que uma suposição, que é a de esse nome provir do dito conde.

Como certeza, temos a indicação de que, com 19 anos de idade, era proprietário de uma «caza de câmbio» na Calçada dos Paulistas. Estamos perante a circunstância de um empresário extremamente jovem ter podido dispor de recursos financeiros de certo relevo, o que não deixa de constituir ponto curioso e mesmo intrigante da biografia de José Maria do Espírito Santo e Silva. Como dispunha aquele jovem empreendedor desses recursos? Não existem fontes que nos deem uma resposta. No plano das conjeturas, aquela que, apesar de tudo, se afigura mais plausível é a de terem surgido da ajuda de um amigo ou parente (pai?), porventura opulento, mas discreto e distante...

Até à geração atual

José Maria Espírito Santo Silva teve dois filhos

  • José Ribeiro do Espírito Santo Silva e
  • Ricardo Ribeiro do Espírito Santo Silva, licenciado em Ciências Económicas e Financeiras

Ricardo Ribeiro teve quatro filhas:

  • Maria da Conceição Cohen do Espírito Santo Silva (1920- ), casada com João Carlos Roma Machado Salgado - Pais de Ricardo Salgado
  • Vera Maria (Verinha) Cohen do Espírito Santo Silva (1924 - 1998), casada com Comandante António Luís Roquette Ricciardi - Pais de José Maria Ricciardi
  • Rita Maria Cohen do Espírito Santo Silva, casada com Rodrigo Barbosa de Araújo Leite de Faria
  • Ana Maria Cohen do Espírito Santo Silva, casada com António Bustorff Silva, Engenheiro

O fundador José Maria Espírito Santo Silva é bisavô de Ricardo Salgado e José Maria Ricciardi.

Fonte: Arquivo Histórico do Banco Espírito Santo, Registos paroquiais, batismos, freguesia da Encarnação, Registos paroquiais, casamentos, freguesia da Encarnação.

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